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A Mitologia Grega e a Bíblia - Semelhanças ou Coincidências?

Em meu post anterior, Os Gigantes da Bíblia e a Mitologia Grega, falei sobre algumas das lendas antigas sobre gigantes e uma possível conexão com aqueles mencionados em Números 13. Em particular, muitas dessas antigas lendas descrevem os gigantes como tendo um gosto por comer carne humana. Números 13:32 descreve a terra de Canaã como uma "terra que devora seus habitantes". Embora existam várias interpretações plausíveis dessa frase, ela poderia muito bem ser uma referência a gigantes que comem pessoas. Esta ligação potencial entre a mitologia grega antiga e a história bíblica levou algumas pessoas a perguntarem se eu sabia de outras conexões possíveis entre as duas áreas. Vejamos alguns dos muitos relatos bíblicos que parecem ecoar na mitologia grega (embora intencionalmente ou não intencionalmente distorcidos ao longo dos anos).

A Primeira Mulher

A Bíblia nos diz que a primeira mulher foi chamada Eva (Gênesis 3:20). Deus criou Adão primeiro do pó do terra e então fez Eva da costela de Adão. Não havia morte, sofrimento ou maldade no mundo quando Deus terminou a Sua obra de criação no sexto dia (Gênesis 1:31). Em Gênesis 3, nos é dito que a serpente enganou Eva, e depois de olhar para o fruto proibido (da árvore do conhecimento do bem e do mal), ela viu que era o fruto era bom para ser comido, agradável aos olhos e desejável (Gênesis 3: 6). Então ela pegou o fruto e comeu. Adão seguiu sua esposa, e como resultado de sua rebelião contra Deus, o Senhor amaldiçoou a serpente e a terra. Como resultado desse pecado, a morte, o sofrimento, o derramamento de sangue e a maldade agora seriam comuns.

De acordo com a mitologia grega, a primeira mulher foi chamada Pandora. Para os leitores mais jovens, Pandora não é apenas o nome de um programa de rádio na Internet. Ela foi feita da água e da terra e abençoada com muitos presentes (esta é a origem do nome, pan = "tudo" e dora = "presente"). Ela também recebeu uma jarra grande (ou caixa segundo alguns historiadores) segurando todos os males do mundo e foi dito que nunca a abrisse. Ela não resistiu a curiosidade e finalmente abriu o jarro/caixa permitindo que o mal se espalhasse no mundo.

Claro que existem várias diferenças entre essas duas historias, mas observe as semelhanças. Antes que o mal estivesse no mundo (embora já pudesse estar no reino celestial), a primeira mulher foi tentada. Em um esforço para satisfazer seus anseios e curiosidades, ela faz a escolha que foi explicitamente ordenada a não fazer, e ao fazê-la, ela desempenha um papel em desencadear o mal neste mundo. Embora a Bíblia nos diga que Eva foi a primeira a comer o fruto, também coloca a culpa em Adão por trazer o pecado para este mundo.

O Homem Forte

Este é um paralelo interessante que muitas pessoas familiarizadas com a Bíblia e a mitologia grega têm perguntado. Tanto Sansão como Hércules são bem conhecidos por sua força lendária, e muitas outras semelhanças existem entre os dois.

A mãe de Sansão é descrita como estéril (Juízes 13:2), o que significa que ela não poderia ter filhos. Um dia, ela é visitada pelo Anjo do Senhor trazendo a mensagem de que ela daria à luz um filho, e que este filho iria livrar os israelitas dos filisteus. Ela recebe instruções sobre a dieta de seu filho deveria seguir e para nunca deixar o cabelo da criança ser cortado com navalha. Ela diz a seu marido Manoá. O Anjo então aparece para ambos e repete algumas instruções sobre os requisitos dietéticos. Sansão nasce, cresce e se torna muito forte. Ele mata um leão com as próprias mãos (Juízes 14:6), mata um grupo de homens que ameaçou a sua prometida (Juízes 14:15,19), mata mil filisteus com a mandíbula de um jumento (Juízes 16:1), se apaixona por Dalila (Juízes 16:4), compartilha o segredo de sua força com ela e finalmente é capturado, cego, e zombado (Juízes 16:17-27). Sansão morreu quando destruiu o templo de Dagom, empurrando dois de seus pilares de apoio, e no processo matou cerca de três mil filisteus (Juízes 16:27-30).

Conta-se que Hércules foi um semi-deus, filho de Zeus e uma mulher chamada Alcmena. Sua primeira esposa foi uma mulher chamada Megara. Hércules ficou temporariamente insano, e matou seus dois filhos (algumas histórias têm ele matando Megara também). Sua sanidade restaurada, Hércules completa os 12 trabalhos famosos, um dos quais foi matar o Leão Neméia. Depois de uma vida de promiscuidade e feitos heróicos, Hércules é envenenado e morre. Embora a grande maioria de seus feitos sejam míticos, alguns acreditam que Hércules era uma pessoa real que viveu no século XIII aC.

Há muitas diferenças entre esses dois poderosos homens, mas as semelhanças são impressionantes. Se alguns dos detalhes lendários da vida de Hércules foram emprestados (mas distorcidos) do relato de Sansão, talvez esta seja uma outra conexão entre a verdadeira história nas Escrituras e as lendas distorcidas da mitologia. Hércules era um semi-deus (filho de um deus e um ser humano), enquanto o pai de Sansão era Manoá, embora sua mãe tivesse sido visitada por Deus antes de sua concepção (é fácil imaginar como esta visita celestial pode ter sido distorcida ao longo dos anos através das culturas chegando ao ponto de considera-lo um semi-deus). Ambos os homens experimentaram finais trágicos em seus primeiros casamentos. Ambos os homens mataram leões. Ambos eram conhecidos por sua incrível força. Sansão morreu empurrando dois pilares no templo de Dagon, e Hércules também teve pilares associados a ele. Os dois picos na extremidade ocidental do mar Mediterrâneo, um na costa norte de África, e um na costa sul da Europa são chamados os pilares de Hercules. O período de tempo em que Hercules viveu também corresponde bem com a vida de Sansão.

Os Gigantes

Um dos pontos mais óbvios de semelhança entre a mitologia grega e a Bíblia é o tema gigantes. Muitas Bíblias usam a palavra "gigantes" em Gênesis 6:4 como uma tradução da palavra nephilim. A alegação popular é que nephilim significa "caídos", mas isso é altamente improvável. A palavra provavelmente não vem do verbo hebraico "naphal" (que significa "cair"). Para converter o verbo naphal a um particípio plural, o plural se tornaria nephulim ou nophelim. Não seria nephilim. A palavra nephilim quase certamente vem do aramaico substantivo naphil. O plural dessa palavra isnefilin, e quando trazido para o hebraico, a palavra se torna nefilim. A palavra naphil significa "gigante", então o plural dessa palavra (nephilin/nephilim) significaria "gigantes".

De onde vieram esses gigantes? Gênesis 6:04 nos diz que os gigantes estavam na terra nos dias antes do Dilúvio e depois - quando os filhos de Deus (bene ha 'elohim) tiveram filhos com as mulheres - filhas dos homens. Os "filhos de Deus" são claramente vistos como seres celestiais ou divinos no Antigo Testamento (Jó 1:6, 2:1, 38:7, Deuteronômio 32:8, veja Daniel 3:25 para o equivalente aramaico, 'Elahin). Esses gigantes foram chamados de "homens poderosos, homens de renome" pelo autor bíblico.

A mitologia grega também fala de inúmeros homens poderosos. Os deuses olímpicos freqüentemente se relacionavam sexualmente com mulheres. A progênie resultante dessas uniões eram semi-deuses como Hércules e Perseu. Os semi-deuses eram dotados de grande força e habilidades, e muitas vezes eram considerados gigantes. Este tipo de mitologia é realmente muito comum entre as culturas antigas ao redor do mundo. A Bíblia fornece apenas alguns detalhes de uma maneira direta, enquanto os gregos e outras mitologias antigas desenvolveram todos os tipos de histórias elaboradas em torno desses indivíduos.

Conclusão

Existem muitas outras semelhanças e possíveis paralelos entre os relatos bíblicos e a mitologia grega antiga, e algumas dessas conexões que mencionei podem ser meramente coincidências. Talvez algumas das semelhanças só existem porque lendas antigas foram alteradas para acomodar ou incluir idéias bíblicas. Mas não faz sentido concluir que os gregos antigos só ensinaram essas idéias porque as ouviram dos missionários cristãos, uma vez que as fontes para esses mitos gregos existem há muito tempo antes de o cristianismo entrar em cena. Parece bastante óbvio para mim que essas histórias encontram sua base na realidade. A Bíblia registra a verdadeira história do nosso mundo sem embelezamento, enquanto muitas culturas antigas preservam partes da verdadeira história que muitas vezes são obscurecidas por detalhes lendários.

Um doutor em culturas e línguas antigas não entende mitologia como simplesmente historias fantasiosas e imaginarias, mas como descrições de fatos e acontecimento em culturas antigas de forma bem elaborada e embelezada. As semelhanças são realmente intrigantes e vai muito alem das que contei neste post.


Comments

  1. Claramente a Bíblia recebeu uma autoridade divina, celestial, que outros escritos não. Se a Igreja Católica tivesse acrescentado aos 27 livros do Novo Testamento Ilíada e Odisseia, com certeza os crentes não chamariam de mitologia. Essa é a diferença! Um grupo de homens com poder decidiram pelos que ainda viriam no futuro. Nós apenas aceitamos. Eu não mais! Aprecio as histórias bíblica, mas basta estudar a formação do Canon Sagrado para inferir que aquilo é palavra de homens, escrita por homens escolhida e definida por homens.

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