Depois de assistir "Noé" pela terceira vez e analisar detalhamento a mensagem do filme, aqui vai a minha opinião: Na primeira vez que assisti, sinceramente, não gostei, achei muito apelativo visualmente e em certo sentido historicamente, todavia, depois de assistir pela terceira vez, minha opinião mudou um pouco, ainda o considero apelativo visualmente e em parte historicamente. Noé como filme, é uma adaptação de uma história bíblica,e chama a atenção para uma tradição esquecida, mas de grande importância para ligar e dar clareza a alguns fatos bíblicos.
I. Como um Filme
Eu acho que Noé, dirigido por Darren Aronofsky, é um filme divertido e, em alguns aspectos, profundo. A atuação descrita foi bem feita e fiquei particularmente impressionado com a performance de Russell Crowe como Noé, um homem comum cheio de conflitos. Muitas vezes os cristãos tendem a pensar em personagens bíblicos, especialmente os bons, como "robôs" virtuosos. Eles não têm nenhum conflito interno, nenhuma escolha e, como resultado, nenhuma humanidade. Crowe mostrou-nos um Noé na beira da insanidade por causa de seu chamado. Além de Noé, o filme explorou profundas questões existenciais sobre a justiça e a relação da humanidade com o resto do mundo. Fiquei intelectualmente desafiado e atento aos detalhes do filme que de alguma forma conseguiu evitar ser previsível.
Ao mesmo tempo, havia partes do filme que eu não gostei. Eu acho que foi um pouco longo, arrastando cenas sem muito efeito mas ao mesmo tempo apelativo. Achei que a mensagem de justiça ambiental era inconsistente com a necessidade implacável de Noé cometer assassinato. Ainda assim, fui desafiado a ver uma história bem conhecida de uma nova maneira e pensar sobre suas implicações para o mundo contemporâneo.
II. Como uma adaptação
Como adaptação de uma história bíblica, achei Noé fantástico. Claro, havia partes da história que não eram exatamente como retratado no texto de Gênesis 6-9, mas Aronofsky conseguiu ficar notavelmente perto do texto e escrever uma história fascinante abordando questões contemporâneas. Um boa pregação costuma fazer bem a mesma coisa, enche as lacunas narrativas para re-contar uma história antiga de uma nova maneira. Concordo com ele ou não; eu acho que o filme é uma adaptação interessante que merece atenção.
III. Vigilantes
E os "Vigilantes"?
Será que esse diretor de Hollywood simplesmente adicionou anjos que se tornaram em homens-pedra apenas para irritar os cristãos e estourar parte de seu orçamento? A resposta curta é não.
A narrativa do dilúvio em Gênesis começa com uma estranha história dos "Filhos de Deus" fazendo das "filhas de homens" suas esposas e produzindo uma prole de gigantes (Gênesis 6: 1-4). A maioria dos pregadores contemporâneos evitam essa história estranha, muitos nunca nunca ouviram sobre os Anjos Vigilantes. Mas, esta história foi o recurso mais importante na Bíblia hebraica para judeus e cristãos de cerca de 300 aC a 200 dC para falar sobre a origem do mal.
Para resumir uma narrativa fascinante e complicada, a história de Gênesis 6:1-4 foi interpretada no Livro dos Vigilantes para contar a história de anjos caídos chamados "Vigilantes". Nesta história, os anjos vêem mulheres humanas e querem ter relações sexuais com elas. Estes 200 anjos fazem um pacto, deixam o céu e acham que as mulheres da terra são fáceis de serem seduzidas. O resultado de sua transgressão é a introdução da magia, feitiçaria, metalurgia e varias outras técnicas demasiadamente avançadas para a época; tecnologias estas que levaram à deterioração e iminente destruição da humanidade. Além dessas artes destrutivas, os Vigilantes têm uma prole de gigantes que "devoram" a humanidade e perpetua mais e mais violência na Terra. Eventualmente, essas criaturas se tornam demônios.
Esta história é retrabalhada de diferentes maneiras na literatura judaica e cristã, mas o esboço básico da história do Livro dos Vigilantes é bastante consistente. De fato, a história dos Vigilantes é explicitamente mencionada em 2 Pedro 2:4 e Judas 6 e provavelmente por Paulo em Gálatas 3 e 4. Ela também aparece em escritos cristãos pós Novo Testamento como um recurso importante para explicar a origem do mal. Justin Mártir é um exemplo particularmente claro:
"Quando Deus fez o mundo, [. . .] colocou os homens e todas as coisas debaixo do céu sob os cuidados dos anjos (cuidado é diferente de domínio que foi dado à Adão e Eva). Mas os anjos transgrediram este compromisso, e foram cativados pelo amor das mulheres, e geraram crianças que são chamados hoje de demônios; E, além disso, depois subjugaram a raça humana, em parte por meio de escritos mágicos, e em parte por medos e castigos, e em parte ensinando-os a oferecer sacrifícios, incenso e libações que eles necessitavam depois que foram escravizados por paixões luxuriosas; E entre os homens semearam assassinatos, guerras, adultérios, atos intempestivos e toda a maldade." (Apology 2: 5, citado de ANF 1.190).
Aronofsky extrai de uma antiga tradição a interpretação que se desenvolveu em torno da história de Gênesis 6:1-4 para contar sua história sobre anjos sendo redimidos. A versão cinematográfica da história é substancialmente diferente da realidade, uma vez que no relato antigo original os Vigilantes são muito mais problemáticos e envolvidos com as mulheres humanas. Os homens-pedra - os Vigilantes do filme de Aronofsky são basicamente anjos bons tentando ajudar a humanidade e acabam retornando ao céu. Além disso, eles não tem relacionamento com as mulheres. Curiosamente, então, o desvio mais substancial que Aronofsky faz da tradição é em relação aos Vigilantes, mas não porque eles aparecem na história, mas por causa do que eles fazem em sua versão. Se tivéssemos uma versão mais "precisa" este filme provavelmente não teria sido PG-13.
Honestamente, fiquei desapontado com a forma que os Vigilantes foram apresentados, pois não são redimidos na história tradicional e são considerados significativamente responsáveis pelo mal que assola a humanidade. Além disso, o os homens-pedra - Vigilantes pareciam meio idiotas.
Conclusão:
Este é um bom filme. Eu não acho que foi um grande filme, mas certamente vale a pena assistir. Eu pensei que era uma adaptação plausível, fiel à história original e uma narração imaginativa. O melhor de tudo, Noé de Aronofsky pode nos ajudar a recuperar uma tradição largamente esquecida.
I. Como um Filme
Eu acho que Noé, dirigido por Darren Aronofsky, é um filme divertido e, em alguns aspectos, profundo. A atuação descrita foi bem feita e fiquei particularmente impressionado com a performance de Russell Crowe como Noé, um homem comum cheio de conflitos. Muitas vezes os cristãos tendem a pensar em personagens bíblicos, especialmente os bons, como "robôs" virtuosos. Eles não têm nenhum conflito interno, nenhuma escolha e, como resultado, nenhuma humanidade. Crowe mostrou-nos um Noé na beira da insanidade por causa de seu chamado. Além de Noé, o filme explorou profundas questões existenciais sobre a justiça e a relação da humanidade com o resto do mundo. Fiquei intelectualmente desafiado e atento aos detalhes do filme que de alguma forma conseguiu evitar ser previsível.
Ao mesmo tempo, havia partes do filme que eu não gostei. Eu acho que foi um pouco longo, arrastando cenas sem muito efeito mas ao mesmo tempo apelativo. Achei que a mensagem de justiça ambiental era inconsistente com a necessidade implacável de Noé cometer assassinato. Ainda assim, fui desafiado a ver uma história bem conhecida de uma nova maneira e pensar sobre suas implicações para o mundo contemporâneo.
II. Como uma adaptação
Como adaptação de uma história bíblica, achei Noé fantástico. Claro, havia partes da história que não eram exatamente como retratado no texto de Gênesis 6-9, mas Aronofsky conseguiu ficar notavelmente perto do texto e escrever uma história fascinante abordando questões contemporâneas. Um boa pregação costuma fazer bem a mesma coisa, enche as lacunas narrativas para re-contar uma história antiga de uma nova maneira. Concordo com ele ou não; eu acho que o filme é uma adaptação interessante que merece atenção.
III. Vigilantes
E os "Vigilantes"?
Será que esse diretor de Hollywood simplesmente adicionou anjos que se tornaram em homens-pedra apenas para irritar os cristãos e estourar parte de seu orçamento? A resposta curta é não.
A narrativa do dilúvio em Gênesis começa com uma estranha história dos "Filhos de Deus" fazendo das "filhas de homens" suas esposas e produzindo uma prole de gigantes (Gênesis 6: 1-4). A maioria dos pregadores contemporâneos evitam essa história estranha, muitos nunca nunca ouviram sobre os Anjos Vigilantes. Mas, esta história foi o recurso mais importante na Bíblia hebraica para judeus e cristãos de cerca de 300 aC a 200 dC para falar sobre a origem do mal.
Para resumir uma narrativa fascinante e complicada, a história de Gênesis 6:1-4 foi interpretada no Livro dos Vigilantes para contar a história de anjos caídos chamados "Vigilantes". Nesta história, os anjos vêem mulheres humanas e querem ter relações sexuais com elas. Estes 200 anjos fazem um pacto, deixam o céu e acham que as mulheres da terra são fáceis de serem seduzidas. O resultado de sua transgressão é a introdução da magia, feitiçaria, metalurgia e varias outras técnicas demasiadamente avançadas para a época; tecnologias estas que levaram à deterioração e iminente destruição da humanidade. Além dessas artes destrutivas, os Vigilantes têm uma prole de gigantes que "devoram" a humanidade e perpetua mais e mais violência na Terra. Eventualmente, essas criaturas se tornam demônios.
Esta história é retrabalhada de diferentes maneiras na literatura judaica e cristã, mas o esboço básico da história do Livro dos Vigilantes é bastante consistente. De fato, a história dos Vigilantes é explicitamente mencionada em 2 Pedro 2:4 e Judas 6 e provavelmente por Paulo em Gálatas 3 e 4. Ela também aparece em escritos cristãos pós Novo Testamento como um recurso importante para explicar a origem do mal. Justin Mártir é um exemplo particularmente claro:
"Quando Deus fez o mundo, [. . .] colocou os homens e todas as coisas debaixo do céu sob os cuidados dos anjos (cuidado é diferente de domínio que foi dado à Adão e Eva). Mas os anjos transgrediram este compromisso, e foram cativados pelo amor das mulheres, e geraram crianças que são chamados hoje de demônios; E, além disso, depois subjugaram a raça humana, em parte por meio de escritos mágicos, e em parte por medos e castigos, e em parte ensinando-os a oferecer sacrifícios, incenso e libações que eles necessitavam depois que foram escravizados por paixões luxuriosas; E entre os homens semearam assassinatos, guerras, adultérios, atos intempestivos e toda a maldade." (Apology 2: 5, citado de ANF 1.190).
Aronofsky extrai de uma antiga tradição a interpretação que se desenvolveu em torno da história de Gênesis 6:1-4 para contar sua história sobre anjos sendo redimidos. A versão cinematográfica da história é substancialmente diferente da realidade, uma vez que no relato antigo original os Vigilantes são muito mais problemáticos e envolvidos com as mulheres humanas. Os homens-pedra - os Vigilantes do filme de Aronofsky são basicamente anjos bons tentando ajudar a humanidade e acabam retornando ao céu. Além disso, eles não tem relacionamento com as mulheres. Curiosamente, então, o desvio mais substancial que Aronofsky faz da tradição é em relação aos Vigilantes, mas não porque eles aparecem na história, mas por causa do que eles fazem em sua versão. Se tivéssemos uma versão mais "precisa" este filme provavelmente não teria sido PG-13.
Honestamente, fiquei desapontado com a forma que os Vigilantes foram apresentados, pois não são redimidos na história tradicional e são considerados significativamente responsáveis pelo mal que assola a humanidade. Além disso, o os homens-pedra - Vigilantes pareciam meio idiotas.
Conclusão:
Este é um bom filme. Eu não acho que foi um grande filme, mas certamente vale a pena assistir. Eu pensei que era uma adaptação plausível, fiel à história original e uma narração imaginativa. O melhor de tudo, Noé de Aronofsky pode nos ajudar a recuperar uma tradição largamente esquecida.
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